sexta-feira, julho 10, 2020

Ilha da Pombeba: a ilha que nasceu suja



O que mais o subúrbio tem (ou teve) é ilha e praia. Se eu for enumerar as praias e ilhas, ficaria aqui escrevendo o dia todo, mas minha intenção é mostrar a todos os leitores que precisamos resgatar a história suburbana, precisamos tecer essa concha de retalhos e montar um lençol histórico mostrando o que vivemos e o que perdemos.

Relatos de antigos (história oral) é uma fonte belíssima (claro que realizando a devida análise) de informações de o que perdemos em nome de um tal progresso. A Avenida Brasil, a favelização e a falta de preservação do poder público contribuíram para que perdêssemos nossa flora, fauna e geografia privilegiada.

Diversas pesquisas sobre as praias e as ilhas estão todos os dias explodindo pelas academias e pelas redes sociais. Estamos a cada dia descobrindo um “novo Rio de Janeiro”, ou seria um Rio esquecido? O compromisso de todos que pesquisamos o subúrbio é trazer até você leitor, tudo que desapareceu dos nossos olhos e está esquecido na nossa história.


Os campeonatos de remo realizados na Ponta do Caju tinham como fundo a ilha de Pombeba. Conhecida como a “ilha dos urubus”, é uma ilha artificial (contestável), formada a partir de dejetos de matérias de drenagem das obras do Porto do Caju. No local a natureza se refez, nasceu um bosque e no local atualmente possuí inúmeros pássaros e animais. O mais interessante que a ilha tem CEP próprio que é 21180-070. Infelizmente a ilha acumula muita sujeira e lixo por todos os lados. Seu tamanho atual é de 9.800 metros quadrados.


Como a ilha nasceu para despejo de sujeira, ela nada mais é que um reduto de doenças. A população do Caju reclamava isso já em 1918, onde o periódico "A Rua" mostra uma reportagem completa sobre isso.

A ilha durante anos foi usada por uma empresa como depósito de carvão e produção de gás. A Belmiro Rodrigues & Cia. Foi uma empresa grande e que durante anos manteve a ilha como depósito e ajudou a despejar produtos químicos em volta da ilha.



Antes da Baía de Guanabara virar um grande depósito de lixo a céu aberto, era comum pequenos barcos fazerem transportes por dentro dela. Pessoas pegavam barcos na Praça XV para ir para Maria Angú, Porto de Inhaúma e tanto outros lugares. Um dos itinerários dessas embarcações passava justamente em frente a ilha, já que a ponta do Caju era usada como parada de barcos.

De onde vem esse nome Pombeba? Segundo especialistas a palavra tem alguns significados como: " A mão chata", "A fibra”, "Cipó chato". O que me faz pensar que existia um pequeno pedaço de terra. Uma reportagem de 1865 aponta um leilão de uma ilha de mesmo nome no Caju e que nela existia uma pequena fábrica de sabão, ou seja, ela não é artificial, ela tinha uma pequena parte em terra e foi aumentada devido a detritos das obras do porto. A ilha teve seu nome oficializado em 1965, no governo Lacerda.


Por Paulo Silva


Postado neste blog por Adinalzir Pereira Lamego

5 comentários:

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Boa tarde, meu amigo!

Infelizmente, os aterros e desmontes de morros detonaram a geografia do Rio. Acabaram com praias, lugares históricos e até com ilhas. Aliás, li por esses dias no Diário do Rio, com base num estudo, que até o bairro de Irajá já teve uma ilha...

No entanto, como esperar que os cariocas do passado teriam uma visão diferente da própria cidade?

Por muito tempo, prevaleceu a visão do "bota-abaixo" e, quando leio a respeito da Floresta da Tijuca, ainda nos tempos imperiais, percebo ali uma rara exceção numa época em que tudo estava convergindo para a destruição da natureza.

Felizmente, as sociedades carioca e fluminense estão tomando consciência de que é importante preservar as paisagens naturais e até recuperar os rios, praias e baías. Porém, isso ainda deve levar tempo até que tenhamos uma expansão dos serviços de saneamento básico juntamente com as demais políticas urbanas. E já não sei se vereamos a tão desejada despoluição das baías de Guanabara e de Sepetiba. Pois, se chegar em 2050, com meus 74 anos, tenho dúvidas se as coisas estarão melhores aqui.

Forte abraço e um excelente final de semana.

Raul Felix de Sousa disse...

Affonso Várzea, no livro Geografia do Distrito Federal, não deixa dúvidas de que a ilha da Pombeba já existia, embora tenha sofrido subsequentemente grandes alterações por ação humana:
"A ilha bem adentrada no Saco de São Cristovão, de cujo cais dista 500 metros, realiza, como as Enxadas, o nivelamento integral por obra do homem, tendo os aterros crescido principalmente para sueste e noroeste, em roda de uma lage agora abaixo do piso principalmente usado pelo Loide Brasileiro como deposito de carvão.
Só uma pedra do extremo noroeste, descoberta apenas na maré baixa, pode fornecer amostra da constituição original, verificando-se tratar-se de granito de gra media, cinzento."

Adinalzir disse...

Prezado Rodrigo Phanardzis
Seus comentários sempre enriquecem ainda mais o conteúdo do assunto. Fico sempre muito feliz pela sua visita ao meu blog. Grande abraço!

Adinalzir disse...

Muito grato Raul Felix de Sousa
Fico sempre muito feliz pela visita ao meu blog.
Sua visita e contribuição ajudam a enriquecer o meu trabalho.
Gratidão sempre!

Anônimo disse...

A tristeza maior não é saber que uma ilha se expandiu por meio de lixo químico, é saber que a Baía ainda é um aterro sanitário e que eu nunca verei a baía limpa.