terça-feira, setembro 10, 2019

A paisagem carioca e suas muitas histórias


Panorama. Litografia do suíço Phillippe Benoist: visão do Centro em 1813.

A Biblioteca Nacional vai reunir em exposição inédita acervo de mapas, gravuras e fotos raras que contam todo o passado urbanístico e arquitetônico do Rio e as várias tentativas de organização do espaço urbano.

Após chegar ao Rio com a missão artística francesa, em 1815, o arquiteto parisiense Grandjean de Montigny traçou um plano urbanístico para o Centro da cidade, com passeios verdes e um eixo monumental ligando a Praça Quinze a uma área que batizou de Leopoldina, a poucos metros do Largo da Carioca. Todos os detalhes do projeto, com textos em francês escritos a bico de pena e desenhos feitos com aquarela, estão guardados pela Biblioteca Nacional há cerca de 200 anos. E vão poder ser vistos numa exposição inédita, de documentos raros, que começa a ser preparada pela instituição e que tem a ambição de contar, no ano que vem, a história da paisagem carioca.

Mapas e itens de iconografia mostrarão a evolução da cidade, dos tempos coloniais ao século XX, já que o acervo da biblioteca, com 9 milhões de itens, abrange os mais de 400 anos de Rio de Janeiro. A seleção do material ainda está no início, já que a exposição será montada para o Congresso Mundial de Arquitetos, em julho de 2020, mas a instituição adiantou ao GLOBO algumas dessas preciosidades.

- A Biblioteca Nacional é guardiã de um grande acervo da história do Rio, desde a sua criação até hoje, e, pela primeira vez, vai mostrar a evolução arquitetônica da cidade. São imagens —gravuras, mapas e fotos - raras e poucas vezes vistas pelo público - diz a presidente da Biblioteca Nacional, Helena Severo. Pelo percurso já elaborado para a exposição, a visita terá como ponto de partida a cidade de caráter barroco, que nasceu sem planejamento. Não havia grandes avenidas, as ruas não tinham traçados retos. “A cidade vai nascendo torta, serpenteando os morros, buscando espaços existentes. Era uma cidade de cortiços, insalubre, cheia de lagoas pestilentas”, destaca o plano da biblioteca. Dessa época, há uma perspectiva da “Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro”, de 1765, do artista e escritor inglês James Forbes, que desenhou o litoral do Centro com suas casinhas, torres de igrejas e os morros do Castelo e do Mosteiro de São Bento, tendo a cadeia de montanhas do Rio atrás, a partir de uma visão da Baía de Guanabara pontuada por embarcações à vela.

- O acervo da Biblioteca Nacional tem o registro de todas as fases da formação da cidade. Desde o século XVII, com a cartografia - ressalta o arquiteto - chefe do Núcleo de Arquitetura da Biblioteca Nacional, Luiz Antonio Lopes de Souza, que teve a ideia da exposição e mergulha hoje nesse acervo sobre o Rio. - Vamos contar uma história que vai aflorar desse material.

A viagem pelo passado também seguirá por nomes fundamentais do século XVIII, como o do Marquês do Lavradio, que ordenou a mudança do comércio de escravos das ruas para o Valongo, e de Mestre Valentim. Arquiteto mulato, o mais importante de sua época, ele projetou, entre outras obras, o chafariz da Praça Quinze e o Passeio Público, o primeiro parque do país.

Do começo do século XIX, outra joia da Biblioteca se destacará: o desenho a lápis “Visão da Igreja da Glória”, do pintor austríaco Thomas Ender, que chegou ao país em 1817 na companhia da Expedição Científica de História Natural para o casamento da arquiduquesa Leopoldina com Dom Pedro I. Ainda do “baú” do século XIX, tem uma planta do engenheiro militar João da Rocha Fragoso da área comercial do Rio em 1836 que espanta pelo detalhismo: ele desenhou todas as fachadas de edifícios, prédios públicos e igrejas.

A questão urbanística do Rio deu um salto com a chegada da Corte, em 1808, que obrigou a cidade a se organizar, melhorar a iluminação e construir prédios com mais qualidade. Iconografias dessa época mostram a Praça do Comércio, hoje Casa França-Brasil, de Grandjean de Montigny, responsável por disseminar a arquitetura neoclássica no Brasil.

GRANDES TRANSFORMAÇÕES

Já no século XX, a exposição vai abranger grandes transformações da cidade, como as obras do prefeito Pereira Passos e o desmonte do Morro do Castelo. O plano do arquiteto francês Alfred Agache, que pensou o Rio sob uma concepção moderna em 1930, também terá espaço, assim como a destruição do Palácio Monroe na década de 1970. Helena Severo afirma que a mostra vai contemplar diferentes visões de cidade, mesmo aquelas que nunca saíram do papel, como a de Agache:

- A exposição vai revelar as várias tentativas de ordenamento da malha urbana, sendo o próprio prédio da Biblioteca parte deste esforço, com a reforma de Pereira Passos - afirma a presidente da instituição, citando o prédio construído a partir de 1910 na então Avenida Central, com projeto do engenheiro militar Francisco de Souza Aguiar.

Texto de Ludmilla de Lima.


Postado neste blog por Adinalzir Pereira Lamego

Um comentário:

João Antônio Vieira disse...

Show, essa exposição também promete!

Só que essa repórter da Globo não deve saber muito de História. A vinda das missões artísticas foi em 1816 e não em 1815. Eu e o Deivid estivemos na festa da comemoração dos 200 anos. Teve até embaixador da França e cocktail. Foi muito show. Temos até registros no IHGI.

O grupo aportou no Rio de Janeiro a 26 de março de 1816, a bordo do navio Calpe, escoltado por navios ingleses, e era formado, segundo Neves, por Joachim Lebreton, o líder, Jean Baptiste Debret, pintor histórico, Nicolas-Antoine Taunay, pintor de paisagens e cenas históricas, Auguste Henri Victor Grandjean de Montigny, arquiteto, junto com seus discípulos Charles de Lavasseur e Louis Ueier, Auguste Marie Taunay, escultor, Charles-Simon Pradier, gravador, François Ovide, mecânico, Jean Baptiste Leve, ferreiro, Nicolas Magliori Enout, serralheiro, Pelite e Fabre, peleteiros, Louis Jean Roy e seu filho Hypolite, carpinteiros, François Bonrepos, auxiliar de escultura, e Félix Taunay, filho de Nicolas-Antoine, ainda apenas um jovem aprendiz. Muitos deles trouxeram suas famílias, criados e outros auxiliares.[2] Pinassi acrescenta ainda os nomes de Sigismund Neukomm, músico, e Pierre Dillon, secretário de Lebreton.[5] Seis meses mais tarde, uniram-se ao grupo Marc Ferrez, escultor (tio do fotógrafo Marc Ferrez) e Zéphyrin Ferrez, gravador de medalhas.