Sendo a única mulher envolvida na rebelião, a aristocrata rebelde Hipólita de Melo foi condenada por Lisboa.
A imagem dos envolvidos na Inconfidência Mineira não deixa dúvidas: eram grandes homens comprometidos em libertar o Brasil de Portugal e instaurar um regime baseado nos princípios republicanos dos Estados Unidos. Mas eles tinham companhia. Uma doce companhia. Hipólita Jacinta Teixeira de Melo foi uma figura importante no movimento. No início, ajudou na comunicação entre os inconfidentes, arriscando-se a distribuir cartas e comunicados. Mais tarde, com os principais líderes presos, ela tentou organizar uma articulação com militares mineiros para levar a revolução adiante.
Hipólita nasceu em 1748 em Prados, interior de Minas. Educada, culta e de personalidade forte, casou-se com Francisco Antônio de Oliveira Lopes, companheiro do alferes Joaquim José da Silva Xavier. Seu marido era membro ativo do grupo de Tiradentes (a afinidade entre os dois nasceu quando serviam no Regimento dos Dragões de Minas, em Vila Rica), e Hipólita tinha pleno conhecimento e apoiava o movimento. O que não existe, segundo seus biógrafos, é uma imagem da inconfidente.
A família da garota marcava presença na política mineira. Seu pai, Pedro Teixeira de Carvalho, era um rico minerador e capitão-mor da Vila de São José Del Rey, atual cidade de Tiradentes. Ele deixou toda a sua fortuna para a filha, inclusive a Fazenda da Ponta do Morro, onde Hipólita continuou a morar com Francisco depois de casada. A fazenda tornou-se uma “célula” dos inconfidentes graças à sua localização estratégica: ficava próxima à Estrada Real, facilitando a comunicação entre os conjurados das cidades próximas, como São João Del Rey, Prados, São José Del Rey e a capital da província, Vila Rica.
“Transformaram sua casa em ponto de encontro de outros descontentes. Ali compareciam os heróis da Inconfidência Mineira. Só não sabiam que, entre eles, um sobrinho por afinidade de Francisco Antônio, chamado Joaquim Silvério dos Reis, viria a ser um delator, um traidor, pois não lhe conheciam a falta de caráter”, diz o historiador Ronaldo Simões Coelho no livro Hipólita – A Mulher Inconfidente.
“Hipólita foi a única mulher que participou da Inconfidência”, diz o historiador André Figueiredo Rodrigues, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e autor do estudo “A Mulher na Inconfidência Mineira”, que disseca o período dos acontecimentos de 1789. Segundo ele, as informações do período são escassas, mas dois episódios comprovam a participação efetiva de Hipólita.
O primeiro é uma carta escrita a Francisco Antônio, em maio de 1789, alertando que o líder Tiradentes e o traidor Joaquim Silvério dos Reis encontravam-se presos no Rio de Janeiro por causa dos planos da revolução, delatados por Silvério dos Reis ao governo português. “Na carta, ela pediu para o marido agir com cautela, mas sem se furtar ou esquecer de que ele fazia parte de um grupo de revoltosos que lutavam por ideais de melhoria das condições de vida e trabalho em Minas Gerais”, diz Rodrigues.
Levante
Outros inconfidentes também foram alertados por Hipólita para que procurassem proteção. Por meio do compadre Vitoriano Veloso, que morava em um povoado próximo chamado Bichinho, ela enviou uma mensagem ao padre Carlos Correia de Toledo e Melo, vigário da Comarca do Rio das Mortes, um dos principais líderes dos inconfidentes.
“Dou-vos parte, com certeza, de que se acham presos, no Rio de Janeiro, Joaquim Silvério dos Reis e o alferes Tiradentes, para que vos sirva ou se ponham em cautela; e quem não é capaz para as coisas, não se meta nelas; e mais vale morrer com honra que viver com desonra”, escreveu Hipólita.
No que dependesse da senhora pradense, a história do Brasil poderia, inclusive, ter tomado um rumo totalmente diferente. Vitoriano Veloso também levou, a mando da comadre, uma mensagem ao tenente-coronel Francisco de Paula Andrade, em Vila Rica, para que iniciasse o levante revolucionário imediatamente e organizasse uma reação em toda a região das Minas, a partir da cidade do Serro, próxima de Diamantina.
Outro episódio importante que demonstra o envolvimento de Hipólita foi o fato de proibir o marido de entregar ao então governador de Minas, o Visconde de Barbacena, uma carta-denúncia delatando o movimento. A carta, que seria entregue pessoalmente por Francisco Antônio para tentar diminuir sua pena por participar da Conjuração Mineira, foi queimada por Hipólita, que também destruiu outros documentos que pudessem delatar os revolucionários.
Mesmo assim, ela tentou de tudo para salvar o marido, preso e enviado ao Rio de Janeiro junto com os outros inconfidentes. Durante o processo, mandou confeccionar um cacho de bananas de ouro maciço, em tamanho natural, ofertado à rainha de Portugal, dona Maria I, para obter o perdão do cônjuge. A oferenda, porém, jamais chegou ao destino, pois foi interceptada pelo Visconde de Barbacena. Preso, Francisco Antônio e os outros conjurados foram degredados para a África, onde morreram. Tiradentes foi o único a receber a pena de morte, e Vitoriano, que era negro e alfaiate, foi açoitado.
A imagem dos envolvidos na Inconfidência Mineira não deixa dúvidas: eram grandes homens comprometidos em libertar o Brasil de Portugal e instaurar um regime baseado nos princípios republicanos dos Estados Unidos. Mas eles tinham companhia. Uma doce companhia. Hipólita Jacinta Teixeira de Melo foi uma figura importante no movimento. No início, ajudou na comunicação entre os inconfidentes, arriscando-se a distribuir cartas e comunicados. Mais tarde, com os principais líderes presos, ela tentou organizar uma articulação com militares mineiros para levar a revolução adiante.
Hipólita nasceu em 1748 em Prados, interior de Minas. Educada, culta e de personalidade forte, casou-se com Francisco Antônio de Oliveira Lopes, companheiro do alferes Joaquim José da Silva Xavier. Seu marido era membro ativo do grupo de Tiradentes (a afinidade entre os dois nasceu quando serviam no Regimento dos Dragões de Minas, em Vila Rica), e Hipólita tinha pleno conhecimento e apoiava o movimento. O que não existe, segundo seus biógrafos, é uma imagem da inconfidente.
A família da garota marcava presença na política mineira. Seu pai, Pedro Teixeira de Carvalho, era um rico minerador e capitão-mor da Vila de São José Del Rey, atual cidade de Tiradentes. Ele deixou toda a sua fortuna para a filha, inclusive a Fazenda da Ponta do Morro, onde Hipólita continuou a morar com Francisco depois de casada. A fazenda tornou-se uma “célula” dos inconfidentes graças à sua localização estratégica: ficava próxima à Estrada Real, facilitando a comunicação entre os conjurados das cidades próximas, como São João Del Rey, Prados, São José Del Rey e a capital da província, Vila Rica.
“Transformaram sua casa em ponto de encontro de outros descontentes. Ali compareciam os heróis da Inconfidência Mineira. Só não sabiam que, entre eles, um sobrinho por afinidade de Francisco Antônio, chamado Joaquim Silvério dos Reis, viria a ser um delator, um traidor, pois não lhe conheciam a falta de caráter”, diz o historiador Ronaldo Simões Coelho no livro Hipólita – A Mulher Inconfidente.
“Hipólita foi a única mulher que participou da Inconfidência”, diz o historiador André Figueiredo Rodrigues, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e autor do estudo “A Mulher na Inconfidência Mineira”, que disseca o período dos acontecimentos de 1789. Segundo ele, as informações do período são escassas, mas dois episódios comprovam a participação efetiva de Hipólita.
O primeiro é uma carta escrita a Francisco Antônio, em maio de 1789, alertando que o líder Tiradentes e o traidor Joaquim Silvério dos Reis encontravam-se presos no Rio de Janeiro por causa dos planos da revolução, delatados por Silvério dos Reis ao governo português. “Na carta, ela pediu para o marido agir com cautela, mas sem se furtar ou esquecer de que ele fazia parte de um grupo de revoltosos que lutavam por ideais de melhoria das condições de vida e trabalho em Minas Gerais”, diz Rodrigues.
Levante
Outros inconfidentes também foram alertados por Hipólita para que procurassem proteção. Por meio do compadre Vitoriano Veloso, que morava em um povoado próximo chamado Bichinho, ela enviou uma mensagem ao padre Carlos Correia de Toledo e Melo, vigário da Comarca do Rio das Mortes, um dos principais líderes dos inconfidentes.
“Dou-vos parte, com certeza, de que se acham presos, no Rio de Janeiro, Joaquim Silvério dos Reis e o alferes Tiradentes, para que vos sirva ou se ponham em cautela; e quem não é capaz para as coisas, não se meta nelas; e mais vale morrer com honra que viver com desonra”, escreveu Hipólita.
No que dependesse da senhora pradense, a história do Brasil poderia, inclusive, ter tomado um rumo totalmente diferente. Vitoriano Veloso também levou, a mando da comadre, uma mensagem ao tenente-coronel Francisco de Paula Andrade, em Vila Rica, para que iniciasse o levante revolucionário imediatamente e organizasse uma reação em toda a região das Minas, a partir da cidade do Serro, próxima de Diamantina.
Outro episódio importante que demonstra o envolvimento de Hipólita foi o fato de proibir o marido de entregar ao então governador de Minas, o Visconde de Barbacena, uma carta-denúncia delatando o movimento. A carta, que seria entregue pessoalmente por Francisco Antônio para tentar diminuir sua pena por participar da Conjuração Mineira, foi queimada por Hipólita, que também destruiu outros documentos que pudessem delatar os revolucionários.
Mesmo assim, ela tentou de tudo para salvar o marido, preso e enviado ao Rio de Janeiro junto com os outros inconfidentes. Durante o processo, mandou confeccionar um cacho de bananas de ouro maciço, em tamanho natural, ofertado à rainha de Portugal, dona Maria I, para obter o perdão do cônjuge. A oferenda, porém, jamais chegou ao destino, pois foi interceptada pelo Visconde de Barbacena. Preso, Francisco Antônio e os outros conjurados foram degredados para a África, onde morreram. Tiradentes foi o único a receber a pena de morte, e Vitoriano, que era negro e alfaiate, foi açoitado.
Inconfidentes presos, por Antônio Parreiras / Crédito: Wikimedia Commons
Apesar de os autos da devassa registrarem apenas o julgamento e as penas dos integrantes masculinos da conjuração, Hipólita sofreu os efeitos da derrota dos inconfidentes. Durante anos, lutou para reaver os seus bens, confiscados pela Coroa.
“Após a prisão dos inconfidentes e do início de repressão contra as famílias, dona Hipólita não escapou das punições impostas pela Coroa portuguesa”, diz Figueiredo Rodrigues. Acusada de participar do movimento, ela perdeu todos os bens. Inconformada, escreveu ao secretário do Ultramar, dom Rodrigo de Sousa Coutinho, em Lisboa, solicitando a restituição de boa parte do patrimônio sequestrado em Minas Gerais, alegando ser herança paterna.
“A estratégia deu certo, pois ela conseguiu recuperar a fazenda Ponta do Morro, onde morava, e alguns bens, como objetos de casa e de mineração, móveis e escravos”, diz o historiador Rodrigues.
“A luta pela posse dos seus bens mostra o quanto Hipólita era corajosa e quebra a imagem da sociedade patriarcal em que as mulheres eram submissas e se restringiam aos afazeres domésticos”, diz o historiador Elias Feitosa. “É possível, inclusive, que possa ter havido uma estratégia para a troca de mensagens sem provocar a desconfiança da Coroa. Quem iria suspeitar de uma mulher participando de uma revolução?”
As outras mulheres envolvidas na Inconfidência
Apesar de não terem participação efetiva no movimento, outras mulheres foram importantes no período da Inconfidência Mineira. Nos versos de Marília de Dirceu, o poeta Tomás Antonio Gonzaga declarava seu amor à jovem Maria Doroteia Joaquina de Seixas, por quem era apaixonado e ficou noivo.
Filha da tradicional família mineira, Maria Doroteia viu seu amado ser preso e exilado para a África, pouco tempo antes do casamento, acusado de participação na Inconfidência Mineira. Gonzaga nunca mais voltou ao Brasil. Maria Doroteia acabou sendo conhecida como a noiva da Inconfidência.
Outra personagem de destaque foi a jovem Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira, de São João Del Rey. Filha mais velha do advogado José da Silveira e Sousa, aos 18 anos conheceu o poeta carioca Alvarenga Peixoto, que na ocasião era o ouvidor na Câmara de São João. Casados, foram felizes até a prisão do marido por participação na Inconfidência.
Assim como Hipólita Jacinta Teixeira de Melo, de quem era conhecida, Bárbara Heliodora não se deixou abater e lutou para reaver seus bens confiscados pela Coroa portuguesa. Como ocorreu com a amiga de Prados, ela também conseguiu salvar sua fortuna e a ampliou nos anos seguintes, tomando a frente dos negócios de mineração, agricultura e comércio de escravos.
“Bárbara Heliodora e Jacinta estavam bem distantes das mineiras passivas e solitárias. Após a prisão dos inconfidentes, assumiram a direção dos negócios e defenderam seus interesses”, afirma o historiador André Figueiredo Rodrigues.
“Após a prisão dos inconfidentes e do início de repressão contra as famílias, dona Hipólita não escapou das punições impostas pela Coroa portuguesa”, diz Figueiredo Rodrigues. Acusada de participar do movimento, ela perdeu todos os bens. Inconformada, escreveu ao secretário do Ultramar, dom Rodrigo de Sousa Coutinho, em Lisboa, solicitando a restituição de boa parte do patrimônio sequestrado em Minas Gerais, alegando ser herança paterna.
“A estratégia deu certo, pois ela conseguiu recuperar a fazenda Ponta do Morro, onde morava, e alguns bens, como objetos de casa e de mineração, móveis e escravos”, diz o historiador Rodrigues.
“A luta pela posse dos seus bens mostra o quanto Hipólita era corajosa e quebra a imagem da sociedade patriarcal em que as mulheres eram submissas e se restringiam aos afazeres domésticos”, diz o historiador Elias Feitosa. “É possível, inclusive, que possa ter havido uma estratégia para a troca de mensagens sem provocar a desconfiança da Coroa. Quem iria suspeitar de uma mulher participando de uma revolução?”
As outras mulheres envolvidas na Inconfidência
Apesar de não terem participação efetiva no movimento, outras mulheres foram importantes no período da Inconfidência Mineira. Nos versos de Marília de Dirceu, o poeta Tomás Antonio Gonzaga declarava seu amor à jovem Maria Doroteia Joaquina de Seixas, por quem era apaixonado e ficou noivo.
Filha da tradicional família mineira, Maria Doroteia viu seu amado ser preso e exilado para a África, pouco tempo antes do casamento, acusado de participação na Inconfidência Mineira. Gonzaga nunca mais voltou ao Brasil. Maria Doroteia acabou sendo conhecida como a noiva da Inconfidência.
Outra personagem de destaque foi a jovem Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira, de São João Del Rey. Filha mais velha do advogado José da Silveira e Sousa, aos 18 anos conheceu o poeta carioca Alvarenga Peixoto, que na ocasião era o ouvidor na Câmara de São João. Casados, foram felizes até a prisão do marido por participação na Inconfidência.
Assim como Hipólita Jacinta Teixeira de Melo, de quem era conhecida, Bárbara Heliodora não se deixou abater e lutou para reaver seus bens confiscados pela Coroa portuguesa. Como ocorreu com a amiga de Prados, ela também conseguiu salvar sua fortuna e a ampliou nos anos seguintes, tomando a frente dos negócios de mineração, agricultura e comércio de escravos.
“Bárbara Heliodora e Jacinta estavam bem distantes das mineiras passivas e solitárias. Após a prisão dos inconfidentes, assumiram a direção dos negócios e defenderam seus interesses”, afirma o historiador André Figueiredo Rodrigues.
Saiba mais
Hipólita – A Mulher Inconfidente, Ronaldo Simões Coelho, Editora Armazém de Ideias, 2000.
http://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/wp-content/uploads/2017/02/Bravas-inconfidentes-Revista-de-Hist%C3%B3ria.pdf Acesso em 04/08/2019.
Postado neste blog por Adinalzir Pereira Lamego
2 comentários:
Excelente registro, Adinalzir!
Pouco sabemos sobre essas corajosas mulheres.
Obrigado por trazer esse conhecimento.
Fico muito feliz que tenha gostado, AJ Caldas.
Agradeço pelo seu comentário e volte sempre!
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