sexta-feira, fevereiro 22, 2019

O Campo das Pitangueiras



Largo do Machado, antigo Campo das Pitangueiras, antes da construção da Igreja de N.Sª da Glória. À esquerda, a antiga capela de Carlota Joaquina.

(In Ferrez, G. – A Muito Leal e Histórica Cidade do Rio de Janeiro)

A presença real acelerou a urbanização de toda região, e também atraiu outras personalidades da côrte, que ali passaram a residir. Até então, essa área, conhecida inicialmente como Campo das Pitangueiras, e depois das Laranjeiras, não tinha especial interesse, estando ainda em parte alagada pelos restos de uma lagoa chamada da Carioca, formada pelo rio de mesmo nome que passava perto. Sua drenagem foi acelerada por uma vala que levava suas águas através da atual rua Dois de Dezembro até o braço norte do Rio Carioca, que passava no meio dos quarteirões entre a Praia do Flamengo e a rua do Catete. Esse mesmo braço norte delimitava a área do Campo das Pitangueiras, que passaria a se chamar do Machado desde aproximadamente 1810, quando um açougueiro colocou na frente de sua loja um grande machado de madeira, símbolo inequívoco de sua atividade comercial, acessível a qualquer um, mesmo analfabeto. Essa idéia, criada por um gênio anônimo da comunicação, dá nome ao local há mais de duzentos anos.

Com a volta de D. João a Portugal, as propriedades de sua mulher acabariam nas mãos do Banco do Brasil, sendo o templo da rainha vendido a Antônio José de Castro e esposa. Em 1834, foi criada a nova freguesia de N.Sª da Glória, desmembrada da de S. José, o que levou à fundação, no ano seguinte, de uma Irmandade correspondente, cuja matriz provisória foi instalada em uma capela na chácara pertencente a Antônio Pereira de Velasco, na esquina da rua Pereira da Silva com a das Laranjeiras, e dedicada a N.Sª dos Prazeres.

A capela era entretanto muito pequena, o que levou à compra, logo a seguir, daquela que pertenceu a Carlota Joaquina, bem maior, e nela fez-se devida reforma. Contudo, o aumento da freqüência tornava cada vez mais necessária a construção de uma igreja de grandes dimensões, que atendesse à demanda de uma população sempre crescente.

Ao fim de várias negociações, conseguiu-se a posse de um grande terreno no meio do largo, e, em 26 de junho de 1842, com a presença do Imperador D.Pedro II, foi lançada a pedra fundamental da igreja de N.Sª da Glória. A primeira fase de construção foi concluída em 1856, sendo as imagens trasladadas do antigo para o novo templo. As obras, contudo continuariam até 1872, e a antiga capela colonial desapareceria.

Apesar de muito ter mudado ao longo do tempo, o Largo do Machado, antigo Campo das Pitangueiras, mantém sua característica essencial de ponto de convergência dessa parte da zona sul, por onde passam muitos que se dirigem a Botafogo, Flamengo, Laranjeiras, Cosme Velho, etc. O início do desenvolvimento deste verdadeiro hub do trânsito de pessoas e veículos, contudo, foi também mais uma conseqüência da mudança da situação da cidade, com sua súbita transformação em sede da côrte portuguesa, o que levaria a esposa de um casal que não se suportava a morar o mais distante possível do marido.

Escrito por Paulo Pacini
Postado neste blog por Adinalzir Pereira Lamego

3 comentários:

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Excelente texto! Hoje quem passa pela localidade, depara-se com uma área densamente urbanizada e movimentada. A igreja realmente se destaca no meio de várias outras construções, muito embora seja pouco conhecida a sua História e não vejo ali tantos turistas quanto no Centro do Rio.

Adinalzir disse...

Prezado Arthur Claro
Fico muito honrado pela sua visita e comentário.
Volte sempre!

Adinalzir disse...

Prezado Rodrigo Phanardzis
Assim são a maioria das nossas igrejas. Todas com histórias pouco conhecidas.
Além do Largo do Machado e do Catete serem também lugares repletos de história.
Agradeço pela visita!