sábado, junho 01, 2013

Enciclopédia Francesa: A Internet do século 18


Proibida pelo rei e pelo papa, a Encyclopédie levou 21 anos para ser concluída. Seu objetivo era reunir todo o conhecimento humano, mas acabou divulgando uma nova maneira de pensar.

Em uma tarde de novembro de 1752, o rei Luís XV recebeu em audiência um homem desesperado. Jean-François Boyer, jesuíta, bispo de Mirepoix, advertia o rei, com gestos teatrais e lágrimas, de um grande risco que corria o império francês. A terrível ameaça vinha de um grupo de escritores que fomentava idéias de incredulidade, irreligiosidade e rebeldia na população. Os autores, capitaneados pelo filósofo Denis Diderot, já haviam publicado dois tomos de sua coleção de livros, alcançado boas vendagens e se tornado o principal assunto dos salões literários e das páginas de cultura dos jornais.

A ambiciosa idéia de organizar todo conhecimento existente em uma coleção de livros é bem anterior à Encyclopédie. No século 5 a.C., o rei Assurbanípal, da Mesopotâmia, havia ordenado aos sábios de sua corte que escrevessem um livro-síntese sobre tudo o que se conhecia até então. O resultado foram várias tábuas de madeira gravadas em escrita cuneiforme. A palavra enciclopédia vem do grego enkiklios paidéia e significa “cadeia do conhecimento”. O primeiro trabalho que reivindica essa característica em seu título é a Encyclopedia Septem Tomis Distincta de Johann Heinrich Alsted, de 1630, mais de 100 anos antes da mais famosa de todas, a versão francesa, a Encyclopédie ou Dictionnaire Raisonné des Sciences, des Arts et des Métiers (algo como “Enciclopédia ou dicionário sistemático das ciências, artes e profissões”).

Mas, se o formato não era exatamente uma novidade, o que fez a Encyclopédie de Diderot e seu parceiro, Jean le Rond D’Alembert, se tornar uma referência? Simples: ela permitiu que as idéias discutidas nos altos salões da intelectualidade chegassem ao povo.

Os enciclopedistas conduziram seus leitores a uma nova maneira de pensar, na qual a investigação e o método eram propostos como a única forma de chegar ao verdadeiro conhecimento. Aos olhos contemporâneos pode parecer pouco, mas naquele tempo os escolásticos eram os donos da verdade e, para eles, todas as respostas começavam e terminavam em uma única palavra: Deus. Na corte do rei Luís XV, dúvidas sobre a existência divina custavam a cabeça de um cidadão. Imagine escrevê-las, imprimi-las e distribuí-las para milhares de pessoas!

Para entender por que os enciclopedistas tiveram sucesso nessa aventura, é preciso levar em conta o período em que a Encyclopédie chegou às estantes: entre 1751 e 1772. Nessa época, a burguesia já era peça importante para o funcionamento da sociedade, a educação estava sendo ampliada às massas e a vida urbana, com sua agitação e possibilidades, começava a ser o modo de vida predominante na velha Europa. Diante desse cenário, o povo estava sedento por informação, que era vista como um instrumento para melhorar de vida. Só entre 1674 e 1750 foram publicados 30 livros com pretensões enciclopédicas, um número muito maior do que nos 200 anos anteriores. Esses compêndios deixavam em casa, ao alcance das mãos e dos olhos de qualquer um, parte dos conhecimentos que, até então, estavam encerrados nas bibliotecas públicas. Guardadas as devidas proporções, as enciclopédias eram para os homens e mulheres daquele período algo parecido com o que a internet é para a gente hoje.

Fonte: Artigo escrito por Érica Montenegro.

3 comentários:

Prof. Luís Eduardo disse...

Um excelente artigo! Uma excelente enciclopédia é esse blog. Meus parabéns!

José Lima Dias Júnior disse...

Quando criança ao entrar na biblioteca do colégio procurava logo a enciclopédia. Tinha a plena convicção de que tudo que precisava saber constava naqueles livros... bela postagem!

Abraço,

Prof. José Lima Dias Júnior

José Lima Dias Júnior disse...

Quando criança ao entrar na biblioteca do colégio procurava logo a enciclopédia. Tinha a plena convicção de que tudo que precisava saber constava naqueles livros... bela postagem!

Abraço,

Prof. José Lima Dias Júnior