segunda-feira, fevereiro 18, 2013

Cientistas brasileiros exumam restos mortais de D. Pedro I e suas mulheres


Tomografia dos restos de D. Pedro I (Foto: Valter Diogo Muniz)

Foi a primeira vez que o corpo do imperador do Brasil passou por análise. Arqueóloga disse que exames foram feitos em hospital paulistano em 2012.

Cientistas brasileiros exumaram pela primeira vez para pesquisa os restos mortais de D. Pedro I, o primeiro imperador brasileiro, além de suas duas mulheres, as imperatrizes Dona Leopoldina e Dona Amélia.

A exumação fez parte do trabalho de mestrado da arqueóloga e historiadora Valdirene do Carmo Ambiel, que defendeu nesta segunda-feira (18) sua dissertação no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP).

De acordo com Valdirene, os exames foram realizados em 2012 – entre fevereiro e setembro. Ela afirma que obteve em 2010 autorização de descendentes da família real brasileira para exumar os restos mortais. No entanto, negociações para que isto ocorresse iniciaram anos antes. “De forma oficial, esse trabalho começou a acontecer em 2010, mas ele se iniciou mesmo há oito anos”, explicou Valdirene ao G1.

Os exames foram realizados no Hospital das Clínicas de São Paulo e contaram com a ajuda de especialistas da Faculdade de Medicina da USP.

Exumação de D. Pedro I (Foto: Valter Diogo Muniz)

Segundo informações do site do jornal "O Estado de São Paulo", um esquema de segurança foi montado para transportar as urnas funerárias de madrugada desde a cripta imperial, no Parque da Independência, no bairro do Ipiranga, até o local dos exames, em Cerqueira César, onde, sob sigilo, os esqueletos foram submetidos a ultrassonografias e tomografias.

O site do jornal informa ainda que as análises revelaram que D. Pedro I fraturou ao longo de sua vida quatro costelas do lado esquerdo, consequência de dois acidentes - uma queda de cavalo e quebra de carruagem. Isso teria prejudicado um de seus pulmões e, consequentemente, agravado uma tuberculose que causou sua morte aos 36 anos, em 1834. Ele media entre 1,66 m e 1,73 m e foi enterrado com roupas de general.

O "Estado" informa aponta que a exumação dos restos mortais de Dona Leopoldina contradiz a história de que a então imperatriz do Brasil teria fraturado o fêmur após Dom Pedro I tê-la empurrado de uma escada do palácio Quinta da Boa Vista, então residência da família real, localizada no Rio de Janeiro. No exame, não foram encontradas fraturas.

Restos de D. Leopoldina (Foto: Valter Diogo Muniz)

Dona Amelia surpreendeu por estar mumificada (Foto: Valter Diogo Muniz)

No caso da segunda mulher do primeiro imperador do país, Dona Amélia, segundo noticia o "Estado", os cientistas se surpreenderam ao ver que a imperatriz foi mumificada e tinha partes do seu corpo preservados, como cabelos, unhas e cílios. Um crucifixo de madeira e metal foi enterrado com ela.

De acordo com Astolfo Gomes de Mello de Araújo, professor de Arqueologia do MAE/USP e um dos orientadores do trabalho de Valdirene, a exumação dos corpos de parte da família real brasileira é importante para entender melhor o período imperial que o país viveu, que, segundo ele, é tratado com relativamente pouca relevância.

Detalhe das mãos de D. Amélia segurando um crucifixo (Foto: Valter Diogo Muniz)

“O Brasil, de uma maneira geral, tem uma memória histórica curta (...) O trabalho mostrou que havia ali dados importantes, além de derrubar a dúvida de que ali pudessem não estar enterrados os restos mortais”, disse Araújo, referindo-se ao Monumento da Independência, cripta imperial localizada em São Paulo, onde estão as urnas funerárias.

Ele disse que medalhas e comendas que foram enterradas com D. Pedro I foram recuperadas durante a análise das urnas funerárias. Segundo o professor, esses materiais passam por restauração e estão atualmente em posse do Departamento do Patrimônio Histórico da Prefeitura de São Paulo. “Esse material foi recolhido e deve ser exposto”, explica.

O orientador ressaltou ainda a importância da obtenção das autorizações para a exumação, tanto de integrantes da família real brasileira, quanto do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

“Que isto sirva de exemplo até para outros países, onde há cada vez mais tabu em relação ao estudo de restos humanos (...) As pessoas acham que os restos mortais não podem ser manipulados. Isso é um retrocesso total, porque ali há informações importantes. Os restos humanos são tratados com respeito”, disse.

D. Leopoldina passa por tomografia (Foto: Valter Diogo Muniz)

Fonte : G1 Ciência e Saúde

8 comentários:

José Lima Dias Júnior disse...

Prezado Adinalzir,

O trabalho da profª Valdirene é relevante no sentido de preservar a memória histórica, bem como a importância de estudar os restos humanos para compreender o passado.

Abraço,

José Lima Dias Júnior

Anônimo disse...

Nossa, não tem mesmo como não ficar surpreso ao ver a preservação do corpo de Dona Amélia... acho interessante esse tipo de estudo, já desmitifica algumas histórias.

lucidreira disse...

Olá professor Adinalzir, estamos mesmo de volta ao convívio na blogosfera após ferias junto aos meus familiares.
Acho de suma importância esse tipo de intervenção arqueológica e histórica junto aos nossos antepassados, isso demonstra que estamos no caminho certo para desvendar os mistérios da época imperial.
Parabéns mais uma vez, o Sr. sempre na frente.
Abraço

Adinalzir disse...

Prezado José Lima Dias Júnior
Também achei excelente esse trabalho. Contribui cada vez mais para a preservação da nossa história.
Abraços e valeu pela visita!

Adinalzir disse...

Prezada nandarilha
Esse é o grande barato da História. Provocar surpresas e desmistificar certos fatos. Abraços e muito obrigado pela visita!

Adinalzir disse...

Prezado lucidreira
São muitos os mistérios da História que necessitam vir a luz. Agradeço pela visita e um grande abraço!

Carlos Henrique disse...

Muito boa iniciativa. Certamente, já está inspirando trabalhos mais profundos de pesquisas.

Adinalzir disse...

Prezado Carlos Henrique
Realmente... e quem ganha com isso é a História. Abraços e valeu pela visita!