domingo, novembro 11, 2007

Uma certa Aracy (viúva de Guimarães Rosa)


Eles se conheceram em Hamburgo, na Alemanha, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Ele, menino pobre, viu na carreira diplomática uma maneira de conhecer o mundo. Em 1934, prestou concurso para o Itamaraty e foi ser cônsul adjunto na Alemanha. Ela, paranaense, foi morar com uma tia na Alemanha, após a sua separação matrimonial. Por dominar o idioma alemão, o inglês e o francês, fácil lhe foi conseguir uma nomeação para o consulado brasileiro em Hamburgo. Acabou sendo encarregada da seção de vistos. No ano de 1938, entrou em vigor, no Brasil, a célebre circular secreta 1.127, que restringia a entrada de judeus no país. É aí que se revela o coração humanitário de Aracy. Ela resolveu ignorar a circular que proibia a concessão de vistos a judeus. Por sua conta e risco, à revelia das ordens do Itamaraty, continuou a preparar os processos de vistos a judeus. Como despachava com o cônsul geral, ela colocava os vistos entre a papelada para as assinaturas. 

Quantas vidas deve ter salvo das garras nazistas? Quantos descendentes de judeus andarão pelo nosso país, na atualidade, desconhecedores de que devem sua vida a essa extraordinária mulher? Cônsul adjunto à época, seu futuro segundo marido, João Guimarães Rosa, não era responsável pelos vistos. Mas sabia o que ela fazia e a apoiava. Em Israel, no Museu do Holocausto, há uma placa em homenagem a essa excepcional brasileira. Fica no bosque que tem o nome de Jardim dos justos entre as nações. O nome dela consta da relação de 18 diplomatas que ajudaram a salvar judeus, durante a Segunda Guerra. Aracy de Carvalho Guimarães Rosa é a única mulher. Mas seu denodo, sua coragem não pararam aí. 

Na vigência do infausto AI 5, já no Brasil, numa reunião de intelectuais e artistas, ela soube que um compositor era procurado pela ditadura militar. Naquele ano de 1968, ela deu abrigo durante dois meses ao cantor e compositor que conseguiu, sem ser molestado, fugir para país vizinho. Ela o escondeu no escritório de seu apartamento. Aquele mesmo local onde seu marido, João Guimarães Rosa, escrevera tanta história de coronel e jagunço. Durante todos aqueles dias, o abrigado observava, da janela, a movimentação frenética do exército no quartel do Forte de Copacabana. Reservada, Aracy enviuvou em 1967 e jamais voltou a se casar. Recusou-se a viver da glória de ter sido a mulher de um dos maiores escritores de todos os tempos. Em verdade, ela tem suas próprias realizações para celebrar. Hoje, aos 99 anos, pouco se recorda desse passado, cheio de coragem, aventura, determinação, romance, literatura e solidariedade. Vive com o filho Eduardo Tess e a nora Beatriz, em São Paulo, na rua Doutor Melo Alves, por coincidência, bem perto de onde um outro anjo rebelde viveu: Elis Regina.

Por ironia do destino, quem tem tanto para contar, não lembra de mais nada: sua memória foi se apagando com o tempo. O mais grave, porém, é que a memória nacional parece ter  se esquecido dela. Seu nome foi pouco lembrado no ano passado quando se comemorou os 50 anos da publicação de "Grande Sertão: Veredas", a obra-prima de Guimarães Rosa. Que afinal, foi dedicado a ela.

Mas a sua história, os seus feitos merecem ser lidos por todos, ensinados nas escolas. Nossas crianças, os cidadãos do Brasil necessitam de tais modelos para os dias que vivemos. Seu marido a imortalizou em sua obra "Grande Sertão: Veredas". Ao publicar a obra, não a dedicou a ela, doou a ela seu livro mais importante. Aracy desafiou o nazismo, o estado novo de Getúlio Vargas e a ditadura militar dos anos 60.

Uma mulher que merece nossas homenagens. Uma brasileira de valor. Uma verdadeira cidadã do mundo.

COMENTÁRIO: Realmente, ela foi uma grande mulher. É uma pena que a memória fraca do brasileiro se esqueceu dela e de muitos outros fatos marcantes da História de nosso país.

Fontes de Consulta:
Wikipédia, a enciclopédia livre
https://saibahistoria.blogspot.com/2021/12/aracy-moebius-de-carvalho-guimaraes-rosa.html

Pequisa e texto adaptado por Adinalzir Pereira Lamego

6 comentários:

Rose disse...

amei, adorei, achei super fascinante esse blog, vou ser "freguesa". Adoro historia, assim, virei sempre.

Anônimo disse...

Oi, Rose. Valeu pelo seu comentário. Fico muito agradecido. Bendito todos aqueles que gostam de história. Eles irão para o reino dos céus! Visite sempre o saibahistoria e comente...

Rose disse...

Fiquei muito feliz da visita em meu caminho... volte sempre, pois estarei aqui sempre a visitá-lo, um blog super igual á esse, vale a pena.

Beijos.

Rose disse...

Olá, como vai vc????

Anônimo disse...

Olá. Aqui está tudo bem, graças a Deus. Estamos quase saindo de um feriadão aqui no Rio de Janeiro. Muitos alunos e professores estão em repouso, repondo energia para as provas do 4º bimestre. E eu aqui no blog como sempre trabalhando. Um grande abraço e visite sempre o saibahistoria!

Anônimo disse...

Professor Adinalzir Pereira Lamego

Parabéns e enorme reconhecimento pelo valor de seu trabalho que propicia o acesso a informações tão relevantes.

Malu Minas