sábado, julho 10, 2021

A Fazenda das Palmeiras e o Quilombo - Miguel Pereira / Tinguá / Nova Iguaçu - RJ


As margens da antiga Estrada Real do Comércio, nos arredores da Lagoa das Lontras, se encontrava no passado a Fazenda das Palmeiras e o Quilombo.

A região hoje pertence a Miguel Pereira, mas no passado chegou a pertencer a extinta Freguesia de Sant'Anna das Palmeiras, subordinada a Vila de N. S. da Piedade do Iguassu, que tinha sua sede no atual território de Nova Iguaçu, no alto da Serra do Tinguá. Por isso pode ser considerado local de extrema importância histórica para ambos os municípios.

O local da sede da Freguesia de Sant'Anna das Palmeiras e seu núcleo populacional hoje se encontra dentro da Rebio, local completamente inabitado e tomado pela vegetação. Sobre ela e suas ruínas já falamos aqui na página. Ficava aproximadamente na altura da terceira légua da Estrada do Comércio, que a cortava próximo ao Ribeirão das Galinhas. 

A Estrada do Comércio atravessava a Serra do Tinguá e descia passando também pelas serras de Santana, Viúva e etc, rumo a Minas. No trecho de descida entre a Serra do Tinguá e a Serra de Santana, na altura da terceira légua e meia, cortava a localidade chamada Quilombo (ver parte do mapa de 1844). Essa localidade em outro mapa ainda mais antigo, do início do século XIX, se chamava Capoeira dos Negros (ver parte do outro mapa em anexo).

Não se sabe o motivo do nome, talvez tenha existido ali um quilombo anterior a abertura da estrada, ainda no século XVIII, tendo se perpetuado o nome no local. O nome permaneceu na região até as décadas passadas, dando origem a um sítio local, o Sítio do Quilombo, que aparece em outro mapa mais recente (ver em anexo).

Logo a seguir, antes de cruzar o Ribeirão das Palmeiras, a Estrada do Comércio passava pela antiga Fazenda das Palmeiras. Essa fazenda pertenceu ao fazendeiro Antonio dos Santos em meados do século XIX e, nas décadas seguintes, ao seu genro, o nobre alemão Wihelm von Mentzingen, que se erradicou na região, onde foi conhecido como Barão Guilherme de Mentzingen. Em anexo se encontra uma imagem inédita e raríssima da Fazenda das Palmeiras, da década de 30, época que já estava ruindo. Tanto Antonio dos Santos como o Barão Guilherme de Mentzingne eram fazendeiros e agrimensores, sendo esta profissão provavelmente passada pelo sogro ao barão, que foi bem sucedido, sendo responsável por plantas de algumas fazendas do Vale do Café e até estradas, como da própria Estrada do Comércio, feita a mando do segundo Barão do Paty do Alferes. Como fazendeiro, foi dono também da Fazenda Mont Ararat, em Bonfim (atual Arcádia) e do Armazém local. Seu prestígio pode ser comprovado pelo fato de ter sido o responsável pela recepção do Conde D'Eu, genro de Dom Pedro II, numa expedição ao Pico do Tinguá. Sobre esses dois locais citados e sobre a expedição, há dois posts específicos aqui na página O belo e histórico Rio de Janeiro.

Infelizmente não há notícias do antigo casarão da Fazenda das Palmeiras, mas através de sobreposição de mapas, foi possível localizar onde ficava. No exato local passa o oleoduto da Petrobrás, tendo grandes chances das obras de sua implantação terem destruído qualquer vestígio de ruínas da fazenda. Além disso, a área pertencente a antiga fazenda é particular, dificultando uma possível prospecção arqueológica. Ainda há no local uma fazenda que conserva a mesma denominação.

Sobre a importantíssima Estrada do Comércio, já abordada na página acima citada, foi aberta pelo Marechal Francisco José de Souza Soares de Andrea, o Barão de Caçapava. Depois foi reformada, calçada e modificada em alguns trechos pelo engenheiro Coronel Conrado Jacob de Niemeyer, o primeiro dos Niemeyer, que se apaixonou pela região, passando ali o fim dos seus dias. Sua fazenda se localizava na segunda légua da Estrada do Comércio, na subida entre Tinguá e Sant'Anna das Palmeiras, lado da atual Nova Iguaçu. Ele deu nome a região de Conrado (antiga Sertão) em Miguel Pereira. Apesar de aparentemente distantes hoje, essas localidades eram muito próximas quando a única via de ligação era a Estrada do Comércio.

Difícil de entender é o motivo desses locais terem sido esquecidos. O típico calçamento centenário da Estrada do Comércio, valorizado em diversos locais do Rio de Janeiro e do Brasil, onde se tornam pontos turísticos importantes, é totalmente desconhecido em Miguel Pereira. É de se espantar que o poder público não tenha noção de sua importância e dessa forma, está largado a própria sorte, sendo encontrado apenas em pequenos trechos. 

Mais detalhes dessa história na descrição das imagens.

*Texto e pesquisa de Hugo Delphim, publicado na Página O belo e histórico Rio de Janeiro.

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5 comentários:

Manoel Vieira Feliciano disse...

Muito show esse registro histórico! Parabéns!

Rafael Mentzingen disse...

Sou Rafael de Mentzingen, tetraneto do Barão Guilherme. Muito boa sua postagem! Parabéns!

Anônimo disse...

Explendido.conheco pessoalmente a estrada do comercio.o trecho ja subida em Tingua.uma grande area fou adquirida pelo sindicato dos petroleiros da refinaria de duque de caxias -Sindipetro Caxias.podemos agendar uma visita.
Complementando a materia ja publicada nesse blog.sobre o novo caminho da antiga estrada de minas.vindo de sao cristovao.indo pela estrada velha da pavuna.por S.joao de meriti ainda hoje chamada de Estrada de Minas.vai pra miguel couto e sobe por Tingua na estrada do comercio Adentrando.no Complexo das das fazendas arrendadas da grande fazenda Jesuita Santa cruz.essas citadas deviam confrontar abaixo com a fazenda de jacutinga e acima com as fazendasate fazer limites com Vassouras.

Anônimo disse...

Passei por essa estrada e não pude deixar de observar os resquícios antigos deixados pelos escravos, parei em frente a antiga fazenda das Palmeiras e comecei a olhar volta ,o calçamento, as ruinas de um antigo muro ,fui pesquisar e encontrei seu blog,muito interessante a história por trás desse lugar...

Anônimo disse...

Ola, como entro em contato com vc?