sábado, dezembro 07, 2024

Rebelião de tupinambás contra portugueses e tupiniquins


Em agosto de 1554, grupos tupinambás partiram em canoas para atacar inimigos tupiniquins em Boiçucanga, litoral paulista, e aprisioná-los. O conflito é fruto das rivalidades existentes entre as duas tribos - que foram intensificadas a partir do processo de colonização europeia - culminando no aprisionamento de alguns indígenas e de alguns lusitanos. 

A principal narrativa do conflito advém de Hans Staden, viajante alemão que ficou oito meses sob o cativeiro tupinambá após ser capturado enquanto andava na mata. Staden auxiliava os inimigos desses - os tupiniquins e os portugueses - na fortaleza de Bertioga.

A organização de guerras e batalhas para os povos originários exigia uma intensa preparação, tanto no campo religioso, pois consideravam a ajuda dos deuses fundamental, quanto no físico, por ser necessário estar alimentado e bem fisicamente. Por isso, após três meses de preparação, em agosto de 1554, mil tupinambás, em aproximadamente 43 canoas, partiram para a luta contra os tupiniquins e seus aliados. 

Seguiram no dia 14 de agosto para um primeiro ataque em Boiçucanga, uma praia no litoral paulista, que hoje pertence à cidade de São Sebastião, porém  acamparam antes em Ilhabela, uma ilha próxima. Na noite da véspera da batalha, os indígenas dançaram, beberam e dormiram, o que fazia parte de um ritual de guerra típico dos tupinambás. Pela manhã do dia seguinte, dançaram novamente e partilharam seus sonhos, que poderiam significar respostas das entidades sobre a guerra que estava por vir.

É importante destacar um traço fundamental dos conflitos tupinambás: eles costumavam atacar nos meses de agosto e de novembro. Guerreavam, em agosto, por ser o mês de desova de tainhas e de paratis nas bocas de rios e enseadas, ou seja, a possibilidade do sustento nutricional para um conflito posterior. E em novembro, por ser o mês do amadurecimento do milho, matéria prima do cauim, que era utilizado na fabricação de bebidas para a comemoração dos espólios da guerra. 

No caminho para Boiçucanga, terra dos tupiniquins, encontraram alguns inimigos em canoas: os irmãos Braga, portugueses, quatro mamelucos, alguns tupiniquins e uma mulher, iniciando, assim, uma perseguição a esse pequeno grupo. Estes, por sua vez, resistiram durante duas horas ao assédio das dezenas de canoas tupinambás atirando com arco e flechas e zarabatanas.

Os tupiniquins, no entanto, foram vencidos e capturados. Os feridos foram imediatamente mortos, assados e comidos pelos tupinambás. O restante tornou-se prisioneiro, sendo oito indígenas, os irmãos Braga, três mestiços e um homem de nome Andorico. Hans Staden, que estava lotado forçadamente no exército tupinambá, suplicou pela vida dos irmãos e por Andorico, pois eram cristãos como ele, mas teve seu pedido negado porque, segundo os captores, aqueles homens tornariam-se comida. Não se sabe ao certo o destino dos prisioneiros, apenas o do alemão, que foi conduzido para a aldeia de Takuari Tyba, na baixada de Jacarepaguá, onde pôde ser resgatado por um navio francês, após pagarem o resgate em objetos – espelhos, facas, pentes e machados.  

(Leandro Machado, mestrando em História pelo programa de Pós Graduação em História da Universidade Federal Fluminense (UFF), foi pesquisador do projeto “Um Rio de Revoltas” - FAPERJ - CNE/2018-2021)

Antecedentes

A tribo dos tupinambás era inimiga dos tupiniquins, que se aliaram com portugueses. Sofrendo as duras consequências da colonização, somado às antigas desavenças, os tupinambás da região de Boiçuanga organizam um ataque aos seus inimigos indígenas e lusos.

Conjuntura e contexto

Nas primeiras décadas da colonização, os portugueses, ao ocuparem as terras, estabeleceram alianças com alguns grupos indígenas. A união entre europeus e nativos era essencial para as ambições europeias visto que, desta maneira, os portugueses obtinham reforço militar, conhecimento sobre o local, trocas comerciais e apoio para sobreviverem. As tribos indígenas, por sua vez, também disfrutavam do comércio com os recém-chegados, além de obterem ajuda militar para conflitos e inimizades pré-existentes com outras tribos.

Tipologia: Indígenas

Modelo de conflito: Rebelião e Sedição

Grupos Sociais: Indígenas

Motivo(s): Conflito étnico, Reação à conquista estrangeira

Soberania: Portugal

Créditos de Publicação: 

https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes

2 comentários:

  1. Excelente contextualização histórica. Grato. Roberto Aires, jornalista.

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  2. Por favorzinho, mande a batalha de uruçu mirim

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