segunda-feira, março 06, 2017

Henryville, o Batismo Francês do Rio de Janeiro


Um dos maiores mistérios que envolvem os turbulentos anos da fundação da cidade do Rio de Janeiro é o da construção de Henryville, aquele que seria o primeiro aglomerado urbano europeu nas Américas. Teria sido fundado pelos franceses comandados pelo almirante francês Nicolas Durand de Villegagnon em 1556 na altura da atual praia do Flamengo, mais precisamente na foz do rio Carioca, que obviamente na época era formado por águas limpas e cristalinas, bem diferente de hoje, quando desemboca de forma fétida na praia do Flamengo.

O nome Henryville era uma homenagem ao rei da França, Henrique II. Seu nome aparece em vários mapas da época e também numa carta náutica de Villegagnon ao Duque de Guisse, além de constar em um panfleto anônimo dos calvinistas. Um dos argumentos mais fortes a favor da sua existência é que seria extremamente lógico que Villegagnon realmente tivesse mandado construir uma base em terra. Ela serviria de apoio à ocupação da ilha que levaria o nome do francês, onde foi instalado o Forte Colligny para defender o que foi denominado pelos súditos de Henrique II de França Antártica. Hoje na ilha fica a Escola Naval.

Segundo os relatos da época, em Henryville conviviam pacificamente centenas de franceses e índios tamoios, que cultivavam frutas e legumes para abastecer a população do forte e ainda recolhiam água do rio Carioca. Na ilha não havia nem água potável, o que só aumenta a crença de que o aglomerado urbano realmente existiu. A relação entre os franceses e os tamoios, inimigos ferrenhos dos tupiniquins, aliados dos portugueses, era muito boa. Liderados por Cunhambebe, que se tornou grande amigo de Villegagnon, os índios preparavam as toras de pau Brasil que tanto interessavam aos franceses, capturavam araras, papagaios, micos e outros animais exóticos para os europeus e, em troca, os franceses lhes entregavam as quinquilharias de sempre, tecidos, machados, colares, miçangas etc.

Henryville teria sido completamente destruída em março de 1560, quando a expedição comandada pelo português Mem de Sá, então governador-geral do Brasil, derrotou os franceses do forte Colligny. Villegagnon estava na França, justamente tentando buscar reforços para sua colônia carioca. A falta de qualquer vestígio da pequena Henryville se justifica: afinal, não ficaria bem para os portugueses terem de admitir que o Rio de Janeiro nasceu falando francês e só depois mudou de língua.

* O mapa mostra o nome Henryviile, no lado esquerdo embaixo, ao lado da foz do Rio Carioca. Foi feito pelo frade e cosmógrafo francês André Thevet, que viveu na França Antártica e publicou o livro "Singularidades da França Antártica", em 1557.

(Este texto faz parte do livro "Fragmentos do Rio Antigo", de André Luis Mansur Batista e Ronaldo Morais)

2 comentários:

Professora Talita Gonçalves disse...

Devem ser ótimos os livros do professor André Mansur.
Parabéns pelo blog!

joaodoapex disse...

Show, também li o livro Fragmentos do Rio Antigo de Mansur e também me chamou a atenção esse detalhe não divulgado nos livros didáticos. Abri a Gallica e pesquisei por Henryville. ... Até mapas encontrei. 📃🙂