domingo, setembro 13, 2009

Mui Leal e Heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro

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A pedido de vários alunos e em homenagem a amiga virtual Ligia Christina Menezes, uma carioca, que mora há vários anos em Curitiba, a qual conheci através do meu site
Historiaecia, hoje irei postar alguns fatos e fotos sobre essa "Mui Leal e Heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro" que sempre merecem ser lembrados.
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Real Gabinete, 1895, Marc Ferrez, Rio, RJ.
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"O Rio de Janeiro tornou-se capital da colônia portuguesa em 1763. Em 1808, virou a sede de todo o império português, com a atropelada fuga da monarquia de Lisboa para o trópico. O Rio passou a ser a capital de um império que incluía Angola e Moçambique, na África; Goa, na Índia; Timor, Sudeste Asiático; e Macau, China.
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Só em 1960, com a fundação de Brasília, e com a paralela ascensão econômica e demográfica de São Paulo, que a Mui Leal e Heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, título a ela concedido pelo imperador Pedro I, começou a perder prestígio e poder. Mas o charme ainda permanece até hoje.
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Pois de 1763 a 1960 foram construídos ali os mais importantes palácios, igrejas, museus, bibliotecas, fortalezas, aquedutos e estádios brasileiros. Foi só por acaso que o mesmo Dom Pedro proclamou a independência em um riacho, Ipiranga, perto da cidade de São Paulo. Pois quase tudo o se que contou na história do país aconteceu no Rio.
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No Rio se lutou ferozmente com os franceses para decidir quem seria dono da colônia, ainda no século 16. Ali chegavam os escravos da África, o ouro das ricas "minas gerais". Ali Tiradentes foi enforcado. Ali passaram Dona Maria I, dita "a louca" e seu filho regente (depois rei) Dom João VI, além do filho e do neto deste, os dois imperadores Pedro de Orleans e Bragança, 1º e 2º.
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Como se não bastasse, o Rio também conquistou a principal história da república, naturalmente proclamada ali mesmo. Ali se revoltou a armada, em 1893. E ali viveu e se matou o gaúcho Getúlio Vargas. Um atentado contra um opositor, Carlos Lacerda, em uma rua de Copacabana, a Tonelero, criou a crise que resultaria no suicídio do mais importante governante do país no século 20.
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E o Palácio do Itamaraty, então? Antiga residência do conde com esse nome, projetado na metade do século 19, tornou-se a sede do Ministério das Relações Exteriores, para sempre vinculada ao seu mais importante titular, o barão do Rio Branco. Ainda estão ali a biblioteca e a mapoteca usadas pelo barão para demarcar as fronteiras do país.
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Andar pelo Rio é respirar a história do país, se você souber onde enfiar o nariz. "O que, porém, mais surpreende é que os próprios cariocas não estejam a par da história e das crônicas da capital, de que tanto se ufanam", foi o que disse o escritor fluminense, nascido do outro lado da baía, Joaquim Manuel de Macedo (autor do famoso romance "A Moreninha"), em uma série de artigos publicados no "Jornal do Commercio". Depois editados em um livro clássico, "Um Passeio Pela Cidade do Rio de Janeiro", de 1862-1863, os artigos são leitura obrigatória para quem quiser flanar pela "nossa boa Sebastianópolis" da época de nossa monarquia.
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Macedo começa falando do Paço Imperial, o casarão quase à beira-mar (hoje mais afastado da água) que era a sede do governo da colônia e, depois, tornou-se palácio para Dom João VI, seu filho e seu neto (que, no entanto, preferiam residir na mais espaçosa Quinta da Boa Vista e na Fazenda de Santa Cruz.
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Ali funcionaram também o Tribunal da Relação (a principal instituição da Justiça da época) e a Casa da Moeda. A praça onde fica o palácio era conhecida como Terreiro do Paço, e Macedo comenta que os nomes mudavam constantemente. Ele nem poderia imaginar que a praça onde funcionou a sede do Império, cuja constituição ele tanto admirava, mudaria mais uma vez de nome, mais tarde, desta vez homenageando a República: praça 15 de Novembro.
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A praça 15, centro da cidade, é o coração do Rio antigo, que pertence a essa história recente de monarquia. "Contai agora as janelas da face lateral do Paço, que olham para o largo. Contai-as, começando da extrema que faz ângulo com a fachada principal. Contaste até sete? Parai aí", recorda o escritor.
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Qual a importância dessa sétima janela para a história do país? Foi nela que apareceu o presidente do Senado da Câmara, José Clemente Pereira, em 9 de janeiro de 1822, para dar um recado do príncipe Dom Pedro: "Como é para bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que fico".
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Na praça 15 também fica o antigo Convento do Carmo, restaurado e que hoje abriga a Universidade Candido Mendes, e o magnífico Chafariz do Mestre Valentim, obra de 1789. Outro ponto marcante da praça, debaixo do qual transitam milhares de cariocas todos os dias, é o Arco do Teles, uma larga passagem para a rua do Ouvidor construída no começo do século 18 pelo engenheiro militar brigadeiro José Fernandes Pinto Alpoim.
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Os engenheiros militares deixaram sua marca não só nos vários fortes ao longo da baía da Guanabara mas também em prédios civis e religiosos. A mais antiga das fortalezas portuguesas do Rio tem a mesma idade da cidade. A Fortaleza de São João, situada no morro Cara de Cão, fica no local da fundação, em 1565, da vila de São Sebastião do Rio de Janeiro.
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Como bem lembrou Macedo, que escrevia na década de 1860. "Estou convencido de que se podia bem viajar meses inteiros pela cidade do Rio de Janeiro, achando-se todos os dias alimento agradável para o espírito e o coração".

Extraído do texto de Ricardo Bonalume Neto da Folha de S.Paulo

COMENTÁRIO: Aproveito para indicar aqui alguns livros e sites interessantes sobre a história da cidade.

"Um Passeio pela Cidade do Rio de Janeiro", de Joaquim Manuel de Macedo, Livraria Garnier

"Guia da Arquitetura Colonial, Neoclássica e Romântica no Rio de Janeiro", Centro de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro, org. Jorge Czajkowski, Casa da Palavra/ Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 4 volumes

"Iconografia do Rio de Janeiro - Catálogo Analítico 1530-1890", 2 vols., Gilberto Ferrez, Casa Jorge Editorial.

"Visões do Rio de Janeiro Colonial - Antologia de Textos 1531-1800", editado por Jean Marcel Carvalho França, José Olympio Editora/Ed. Uerj, 262 págs.
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15 comentários:

Cris disse...

professorrrrrrrrrrr adorei o post, parabéns, sempre bom conehcer um pouco mais sobre a história das nossas cidades.
bjos
Cris

Adinalzir disse...

Valeu. Cris!

Muito me honra a visita de pessoas como você. Volte sempre!

Beijos, :-)

Anônimo disse...

Oiiii, Adinalzir!

Quando fui ao Rio, pude ter contato com alguns pontos históricos. Lembro que passei por uma praça, só não sei se era a XV de Novembro, eheheh, mas parecia bem antiga.

Aliás, fica uma sugestão para um post sobre a história do Jardim Botânico, o qual tive o prazer de conhecer. É muito bonito lá.

Beijos!

Obs: só para lembrar, de acordo com as mudanças gramaticais, a palavra "heroico" não tem mais acento, eheheh. A língua portuguesa é muito chata e complexa. Mas eu adoro :-))

Adinalzir disse...

Oi, Gigi!

Adorei a sua sugestão sobre um post sobre o Jardim Botânico. Aguarde que ele será um dos próximos.

Concordo com você que realmente a língua portuguesa é muito complexa e difícil e que essas novas regras ortográficas, as vezes me deixam de cabelo em pé, consultar dicionário aqui, ver regra acolá, é um saco. Tenho procurado até seguir a leitura dos jornais diários, pois eles já vem atualizados, até para facilitar. Rsss...

Quanto ao acento na palavra "Heróica" no título da postagem, eu preferi manter toda a grafia original, pois se trata do nome completo da cidade, segundo consta em velhos registros civis e religiosos e em cartas do capitão-mor Estácio de Sá e do Padre Anchieta ao rei de Portugal.

Quanto aquela sua idéia de comentar os comentários lá no seu blog. Achei genial de sua parte. Como você pode ver aqui, é uma coisa que eu já faço e que dá um bom resultado.

Valeu a sua visita!

Beijos, :-)

Anônimo disse...

Oiiii de novo, eheheh

Ah, sim, entendi.

Por falar nisso, tem aqui um site que resume bem as novas regras, se quiser dar uma olhadinha:

http://www.literaturabrasileira.net/site/index.php/gramca-mainmenu-33/20-todos/52-novo-acordo-ortogrco-da-lua-portuguesa

É bom dar uma espiada nele todo, pois é específico de literatura. E, como Literatura e História caminham de mãozinhas dadas, talvez seja bacana como uma fonte complementar ao Saiba História!

Beijinhos

J. Maldonado disse...

Muito interessante esta resenha histórica, a qual dá uma breve noção da grandiosidade da cidade do Rio De Janeiro.
É pena que no estrangeiro, nomeadamente aqui, seja mais conhecida pelo lazer e pela criminalidade do que pela história, a qual está indelevelmente ligada à história de Portugal.

Adinalzir disse...

Oi, Gigi!

Valeu pela dica sobre o site de Literatura. É um ótimo complemento para auxiliar em nossos textos. Adorei!

Beijinhos, :-)

Adinalzir disse...

Caro Maldonado!

Concordo plenamente com você.

É muito grande o número de estrangeiros que aqui chegam e ficam maravilhados com o que encontram e nem faziam idéia de que podia existir. Temos muitos bairros históricos por todo o lado e muita coisa para conhecer.

Infelizmente, nossas autoridades, empresários e a mídia, ainda não perceberam a importância do turismo histórico. Para elas é mais importante, o lazer, o carnaval, as praias e até o turismo sexual.

No meu entender, a violência, acaba sendo uma consequência das más ações políticas.

Um grande abraço e muito obrigado pela visita!

Adinalzir disse...

Oi, Dri Viaro!

Que prazer a sua visita. Valeu!
Pode deixar que irei visitar o seu blog.

Beijos! :-)

Argentino Neto disse...

amigo passei para dar uma olhada nas novidades. Sempre bom voltar aqui. Estou esperando uma visita sua lá no blog. Grande abraço. parabéns pelo selo. Felicidades.

dariopouso disse...

Rio de Janeiro fevereiro e março

Adinalzir disse...

Olá, amigo Argentino!

Muito obrigado pela visita e os comentários. Irei fazer uma visita lá no seu blog. Valeu!

Adinalzir disse...

Valeu, Dario Pouso!

Muito obrigado pela visita. Estarei também lá no seu blog.

Abraços, :-)

Martoni disse...

Bom dia prof. Adinalzir, como vai?
Sempre firme com sue blog sobre a história.
As vezes eu me lembro e venho fazer uma visita à este espaço tão interessante.
Gosto de história.
Ultimamente tenho pesquisado muito sobre a descoberta da Amazônia e sobre os holandeses no Brasil.

Mas eu tenho uma pergunta; existem datas certas das transferências dos capitais do Brasil (Salvador, Rio de Janeiro e Brasília)?

O sr. tem pagina no Facebook?

Desde já, obrigado pela atencão.

Um abraço,
Martoni

Renato Azevedo disse...

Boa tarde Adinalzir
Um ótimo trabalho que você faz em seu blog, postagens com conteúdo relevante e baseados em fontes fidedignas. Um abraço